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sábado, 18 de janeiro de 2014

HONRA SEM MÉRITO (Quem pretende apenas a glória não a merece – Mario Quintana)


Crônica

HONRA SEM MÉRITO (Quem pretende apenas a glória não a merece – Mario Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Final de bimestre, é hora de fechar as notas dos alunos. Uma única preocupação ronda por ali: Os professores se justificam, implorando para a coordenadora endossar algumas notas abaixo da média. E por raras permissões, não antes dela se justificar aos alunos, como se a autoridade viesse de baixo: — "Eu já avisei turma, muitos aqui vão ficar com nota vermelha, a culpa é de vocês mesmos, depois não reclamem" — De certa forma, ela tem razão, é sempre bom evitar as denúncias.
           O que há de ruim nisso? Parece-me que temos de pedir permissão ao aluno incompetente para reprová-lo. No conselho de classe, ali, estão eles representados pelos menos ruim da turma, afiados a condenar e encurralar os professores rebeldes aos seus desejos. São por vezes, ainda, os representantes, os porta-vozes ora da coordenadora, ora dos alunos segundo a conveniência; os defensores de causa alguma. Quando eles determinam maneiras pedagógicas frouxas com as quais gostariam de ser tratados, estão usando a lógica do sistema. Mas, a coordenação, por sua vez, está apta a continuar ordenando os professores: — Recuperem as notas dos seus alunos cabalmente. Fica claro a todos nós sobre o conferir nota boa aos alunos, isso nos poupa muito do sofrimento no conselho de classe, isentando-nos de culpa. 
           Eles são gratos a seus presenteadores e nos reservarão alguns tímidos elogios, depois quando não precisar mais de nossa "ajuda"; enquanto isso, não nos faltam os escárnios. Eu profetizo que em breve, muitos pais inteligentes descobrirão a incompetência do filho e defasagem em sua formação acadêmica, então pedirão à escola para não promovê-lo assim... Aí será o fim desse sistema! O presidente Bolsonaro já descobriu os "idiotas úteis", ou melhor, os "ingênuos úteis". 
           No último conselho que participei, apelava veemente a coordenadora aos professores, usando palavras fortes e até ameaças, objetivando dar outra chance à aluna faltosa, aplicando trabalhos extras, pois ela agora iria "deslanchar". Essa palavra, de acordo nosso contexto, é muito parecida com "desleixar",  tendo sonoridade semelhante e significado consequente. Se não fosse, talvez significasse: "vomitar o lanche" – disse um engraçadinho, de humor imprestável, do meio dos professores, para descontrair.
           Contendo as risadas: — "Você pagará por esse golpe baixo" — retrucou a coordenadora.
           Eu gosto de fechar a boca de meus maus alunos, dando-lhes notas boas, foi lição do meu professor de inglês na faculdade, não fui um mau aluno, mas não me importava com a língua estrangeira. Hoje sei que funciona como vingança, sofro a dor da incompetência, estudei a vida toda o inglês, nunca reprovei, porém não sei falar e/ou escrever uma palavra sequer do tal idioma.
           Assim explicamos, o porquê de se ver muitas notas boas nos boletins dos alunos atuais, e eles não conseguem tirar notas boas nas provas diagnósticas do governo. Então, reformulo a profecia: logo chegará o tempo da colheita, no qual os alunos bem "notados" apedrejarão seus professores mãos-abertas, cobrando o prejuízo que lhes causaram. Tudo em nome da boa e justa convivência! E vejo que as escolas já estão sofrendo, todos os dias é noticiado arrombamento, furto, incêndio e vandalismo em geral como prova da vingança. 
Claudeko Ferreira
Enviado por Claudeko Ferreira em 29/09/2013
Reeditado em 18/01/2014
Código do texto: T4504043
Classificação de conteúdo: seguro
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