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sábado, 12 de maio de 2018

ENTRE CONSELHOS E INQUIETAÇÕES ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci)



Crônica

ENTRE CONSELHOS E INQUIETAÇÕES ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


Ah, este sábado. Nem um dia a mais, nem um dia a menos, apenas um capítulo singular em meio à página corrida do calendário. Mas, eis que este sábado, como muitos outros, resolveu se diferenciar. A rotina matinal, habitualmente silenciosa, foi interrompida por um sinal digital, um aviso virtual de que alguém desejara trocar palavras comigo, uma conexão instantânea para dividir preocupações e inquietações.

E assim, adentrando o mundo das conversas digitais, vi-me na posição curiosa de ser abordado para um aconselhamento. Um pedido para compartilhar meu olhar sobre os meandros da vida conjugal, como se eu fosse um cicerone de relações complexas. Instantaneamente, senti-me como alguém que atravessa uma ponte de madeira velha e podre, passo a passo, cauteloso em cada movimento. As amizades online, os labirintos emocionais de desconhecidos, é um terreno em que piso com prudência. Quem sou eu para interferir nas linhas cruzadas do destino de alguém? (Dono de mulher não é amigo de ninguém, aliás só das amigas dela, vacilou o pai de família, trabalhador adultera. Ele é a medida que julga todos homens).

Mas é aquela velha história do gato escaldado, que teme até as águas mais calmas. As lições do passado, os tropeços e as quedas, todos eles forjaram um escudo de cautela em torno de minha alma. "Gato escaldado tem medo de água fria", dizem. Assim, olhando para trás, vejo um rastro de desafios superados, de obstáculos transpostos com destemor. As ameaças dos ciumentos, as sombras da dúvida, todas elas foram dissipadas pelo esforço constante. E, como alguém que enfrentou a tempestade, encontrei-me agora como um especialista em navegar nesses mares tumultuosos.

É nesse misto de experiência e apreensão que mergulho nos convites do fim de semana. Os amigos chamam, as festas e os eventos aguardam, prometendo colorir meu tempo de descanso. Mas os limites que tracei para mim são como fronteiras intransponíveis, traços de minha própria natureza. A farra, as multidões, a energia efervescente – tudo isso, com moderação, pode ser bom. Porém, minha disposição muitas vezes flutua, e é raro que eu me entregue plenamente à euforia. Não sou um recruta no exército das amizades superficiais. A prostituição social pode prosperar, mas não encontrará em mim um aliado fiel.

Agora, ao ser abordado pela mulher que me procura, o marido é o foco da preocupação. Cabe a mim manter as rédeas, não me envolver em danças perigosas. Empatia, sim, mas sem absorver responsabilidades alheias. Um ombro amigo pode ser um porto seguro, mas estabeleço limites, regras que podem – ou não – ser quebradas, desde que a balança da vida as justifique. "Só vai para a prostituição, por livre e espontânea vontade, quem tem vocação", disse Nelson Barh, e de alguma forma, essa frase ecoa em meu raciocínio. Uma justificativa, uma forma de explicar a própria escolha.

Mas, no fim, paira a inquietação. Por que lutamos contra a prostituição, contra o negócio que vende amor, quando essa batalha, tão antiga quanto a humanidade, continua persistente? Prostituição, palavra que evoca julgamentos, opiniões impregnadas de moralidade. Prostitutas e clientes, os papéis estabelecidos e desafiados ao longo das eras, mas a troca de afeto comercializado resiste. A eterna prostituição que trafica sentimentos, que traduz o imponderável em cifras, que desafia a própria noção de moral e ética.
E assim, neste sábado singular, navego pelas águas revoltas das palavras e das emoções. Entre conselhos e desabafos, entre dilemas e certezas vacilantes, sigo adiante, um navegante nas correntezas da experiência. A vida, esse intricado novelo de escolhas e sentimentos, segue, e eu sigo com ela, aprendendo, questionando, refletindo. "Morrendo e aprendendo", como dizem. E enquanto as incertezas persistem, resta-me enfrentar as marés com o coração aberto e a mente alerta, disposto a decifrar os enigmas que o universo humano insiste em lançar em meu caminho. 
Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 10/12/2016

Reeditado em 12/05/2018

Código do texto: T5849607 

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